quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

INDIVIDUALIDADE


A menos que você abandone a sua personalidade, você não será capaz de encontrar a sua
individualidade. A individualidade é dada pela existência; a personalidade é imposta pela sociedade. Personalidade é conveniência social.
A sociedade não pode tolerar a individualidade porque a individualidade não acompanhará o rebanho, como uma ovelha. A individualidade tem a natureza do leão: o leão move-se sozinho.
As ovelhas estão sempre em rebanho, na esperança de que estar em grupo será aconchegante. Em meio à multidão, o indivíduo sente-se mais protegido, seguro. Se alguém atacar, na multidão há todas as possibilidades de você se salvar. Mas, e estando só? -- apenas os leões andam sós.

Cada um de vocês nasceu leão, mas a sociedade está sempre condicionando, programando a mente de vocês como ovelhas. Ela lhes imprime uma personalidade, uma personalidade agradável, simpática, muito conveniente, muito obediente.
A sociedade quer escravos, não pessoas que sejam absolutamente dedicadas à liberdade. A sociedade quer escravos porque os interesses estabelecidos querem obediência.


Existe uma história Zen a respeito de um leão que foi criado por ovelhas, e pensava que era uma delas, até que um velho leão o capturou e o levou até um lago, onde lhe mostrou o seu próprio reflexo. Muitos de nós somos como esse leão -- a imagem que temos de nós mesmos não advém da nossa própria vivência direta, mas das opiniões dos outros. Uma "personalidade" imposta de fora substitui a individualidade que poderia ter se desenvolvido de dentro. Nós nos tornamos apenas mais uma ovelha no rebanho, incapazes de nos movermos livremente, e inconscientes da nossa verdadeira identidade.

É hora de dar uma olhadela no seu próprio reflexo no lago, e de tomar a iniciativa de libertar-se do que quer que lhe tenha sido imposto como condicionamento pelos outros, com o objetivo de fazer você acreditar em qualquer coisa a seu respeito. Dance, corra, mexa-se, fale uma língua inexistente -- tudo o que for necessário para acordar o leão adormecido dentro de você.


tarô zen de osho

do Kalama Sutra

Tenhais confiança não no mestre, mas no ensinamento.
Tenhais confiança não no ensinamento, mas no espírito das palavras.
Tenhais confiança não na teoria, mas na experiência.
Não creiais em algo simplesmente porque vós ouvistes.
Não creiais nas tradições simplesmente porque elas têm sido mantidas de geração para geração.
Não creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos.
Não creiais em algo simplesmente porque está escrito em livros sagrados; não creiais no que imaginais, pensando que um Deus vos inspirou.
Não creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e anciãos.
Mas após contemplação e reflexão, quando vós percebeis que algo é conforme ao que é razoável e leva ao que é bom e benéfico tanto para vós quanto para os outros, então o aceiteis e façais disto a base de sua vida.
Buda

fonte http://caminhodomeio.wordpress.com/

O monge e o turista

Um turista foi na casa de um monge budista para conhecê-lo.

A casa não tinha quase nada e ele perguntou ao monge:

“Onde estão as suas coisas?”.

O monge respondeu com a mesma pergunta

“E as suas?”. O turista inconformado com a comparaçao disse:

“mas não tem nada a ver, estou aqui de passagem”

e o monge com um sorriso disse:

“Eu também”.




quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

trecho do livro Budismo com Atitude

A razão da meditação sobre a morte não é estragar a felicidade, mas encontrá-la. Os seres humanos tendem a fazer várias maldades, e as religiões do mundo assumiram a responsabilidade de reformar os humanos para melhor. Como a maior parte do nosso comportamento habitual não é boa, temos de ser persuadidos a melhorá-lo. O medo é um método muito eficaz de persuasão.As autoridades religiosas têm, tradicionalmente, tentado persuadir as pessoas a serem boas não somente pelo medo da morte, mas pelo medo do desconhecido e pelo medo do enorme desconhecido, a vida após a morte. As doutrinas religiosas sobre a morte são propositalmente assustadoras.O Buda afirmava que o propósito de seu ensinamento sobre a morte não era assustar as pessoas para elas serem boas, mas prepará-las para a morte nesta vida. Os ensinamentos não se destinavam especificamente a assustar, mas se já existe o medo da morte, melhor conhecer do que temer, comprometer-se com ela e prosseguir de modo que, quando ela realmente chegar, não haja medo.Ao estudar sobre a preciosidade e a raridade de nossa vida, reconhecemos que a vida está passando exatamente agora. Nunca mais teremos este dia. Esta enorme oportunidade passa rapidamente e, então, tudo pára completamente. Quando o seu corpo acaba, sua preciosa vida humana acaba. Considerar a preciosidade e a impermanência da vida é um incentivo.
Se existe algo digno de realizar aqui, realize-o.

B. Alan Wallace, em "Budismo com Atitude".

DEUS NO BUDISMO


Há pessoas que interpretam que no budismo não há "Deus". O assunto é polêmico dentro da própria comunidade budista. Este artigo da Wikipédia ajuda a clarear a questão. Gostei também da explicação sobre o assunto contida na introdução do livro "The Life of Milarepa", de Lobzang Jivaka: O Buda, muito longe de negar que havia um Absoluto, garantiu que aqueles que alcançassem a iluminação deveriam se fundir com Isso e assim perceber a Realidade em oposição ao mundo das ilusões e dos fenômenos. O que ele realmente disse, contudo, que tem levado pessoas a acusarem-no de ateísmo, é que não temos nenhum meio de expressar qualquer coisa sobre Isso. Palavras pertencem ao universo dos fenômenos e são aplicáveis apenas à ele. Quando alguém vai além dos fenômenos, em direção à Realidade, palavras precisam obrigatoriamente ser deixadas para trás. Nenhum ensinamento, nenhuma descrição, nenhum pensamento podem expressar o Absoluto -- mas podemos experimentá-lo, se suficientemente evoluídos.O que Buda combateu foram as numerosas tentativas que foram feitas, estão sendo feitas e continuarão a ser feitas, de dizer que o Absoluto é isso ou aquilo, um Deus pessoal, um Criador, um Deus-Pai. Ele insistentemente recusou responder qualquer pergunta sobre o assunto porque isso era inexprimível em palavras. Ele não iria permitir a seus discípulos imaginar um Absoluto a semelhança deles, como é a tendência do homem em todo lugar. Ele assinalou sutilmente que é melhor se ajustar para tentar alcançar a iluminação e, assim, experimentar o Absoluto por si próprio, em vez de perder tempo tentando ineficazmente falar sobre isso, já que nada que possa ser dito sobre Isso pode ser verdade em absoluto. Palavras iriam inevitavelmente modificá-Lo e moldá-Lo, resultando no máximo em uma aproximação grosseira. Palavras podem ser verdadeiras apenas em certo nível, mas apenas nesse nível, portanto serão apenas verdades relativas. Assim, como um entendimento que só funciona por meio de palavras pode conter o que não pode ser colocado em palavras? Apenas pela experiência direta.Se esse fato tivesse sido assimilado, às custas do orgulho humano, teria havido muito menos intolerância, violência e sofrimento cometidos em nome da religião, entre os vários adeptos de seus seus próprios credos; todos afirmando de maneira confiante e dogmática que somente eles receberam a Verdade e que todos os outros estão errados e devem ser salvos de sua ignorância voluntária....Então, se não há nenhum Deus no sentido de um Deus pessoal -- ou se for compreendido que conceitos de um Deus pessoal, um Criador ou um Deus-Pai, são apenas relativamente verdadeiros e adequados apenas a alguns estágios do desenvolvimento humano -- porque há tantas referências aos "deuses" [no budismo tibetano], sugerindo toda uma hierarquia?A palavra páli "deva" é traduzida como "deus", mas na verdade significa "espírito", um ser de um reino superior que, no budismo, pode influenciar seres humanos, ajudar e protegê-los. A Terra não é o único mundo de seres da cosmologia budista. Há incontáveis universos em diferentes planos de existência, isto é, em diferentes estágios de desenvolvimento (espiritual). Alguns são mais elevados que nós (que somos a maioria). Alguns são inferiores. Há muitas referências a seres humanos renascendo em reinos superiores ou inferiores.Mas, no budismo, não há lugar para a hierarquia massiva da religião Hindu, que acrescentou o próprio Buda a essa hierarquia (até os cristãos fizeram Dele um dos seus santos), nem para a Trindade de Criador, Preservador e Destruidor, nada exceto um Absoluto inexprimível. Em Sua direção as pessoas estão evoluindo ou involuindo, alguns se tornando espíritos de planos superiores, outros afundando em mundos inferiores. E todos pertencem ao mundo dos fenômenos, não à Realidade. Apenas o Absoluto é Real. E nem podemos realmente dizer isso sem declarar algo menor que a Verdade. Mas Ela está lá para ser realizada por alguém com o desejo e determinação como os de Milarepa....

Todo ser humano, todo ser, é um Buda em potencial. Depende de cada um realizar sua própria Natureza Búdica.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

a arte de equilibrar-se sobre um fundo vazio


trecho do livro de Sérgio Veleda


"BUDISMO, A ARTE DE EQUILIBRAR-SE SOBRE UM FUNDO VAZIO" significa a arte de soltar, desprender e largar não necessariamente o que está fora de si, mas o que está dentro. E assim experimentar a sensação de abrir-se ao espaço, à vacuidade. Saliento: sua visão espiritual não-teísta, a coragem guerreira que incentiva o destemor de ver esse mundo como um fluxo impermanente fascinante; a arte do trapézio, a de se equilibrar de forma humana e corajosa sobre o fundo vazio de todas as coisas"


"Não encontraremos no Budismo a figura de Deus. A sua origem é sapiencial. Não foi concebido por intervenção ou revelação divina. (...) O Budismo nasceu da experiência direta de um homem: Gautama Buda"


"O Budismo se origina de uma experiência individual, de um homem que acreditava apenas na própria experiência e recomendava a todos os que se aproximavam dele a não acreditar em nada sem antes provar. por isso, o Budismo é pedagógico e a conduta de Buda, o exemplo"


" (...) como afirma Buda, a quietude e o silêncio da própria mente se tornam o gozo luminoso. Esvaziada, ela pode ver as coisas como são, apreciando seu bailado como uma dança de luzes"


Diz Dogen: " se a vida vem, eis a vida. Se a morte vem, eis a morte. não há razão para que estejas sob o seu controle. Não tenhas esperanças nelas. Esta vida e esta morte são a vida do Buda. Se tentas lançá-las fora, negando-as, perdes a vida do Buda".
É como não mais se desviar de coisa algumae permanecer diante de pensamentos, sensações, eventos. Não é mais possível burlar o que vem, e o mais incrível é que não há alguém para se desviar.
...


RESENHA DE FILME



Ficha Técnica





Título Original: Un Buda


Gênero: Drama


Tempo de Duração: 115 minutos


Ano de Lançamento (Argentina): 2005


Site Oficial: www.evergreen-studio.com/un_buda


Direção: Diego Rafecas Roteiro: Diego Rafecas Produção: Ricardo Parada e Diego Rafecas





Sinopse


O Buda (Un Buda) Um bom filme argentino sobre dois meninos cujos pais eram ativistas políticos (e budistas), mortos pela ditadura militar. Quando adultos, assumem caminhos opostos: um dos garotos torna-se professor de filosofia (vivido pelo próprio diretor Rafael Rafecas) e o outro fica perdido, sem saber como viver o seu misticismo, até encontrar um templo nas montanhas. A partir daí, a sua vida modifica-se e ele encontra um canal adequado para exprimir o seu desejo do transcendental.



CRÍTICA

---> Este filme veio parar em minhas mãos depois de minhas andanças e garimpos intermináveis em diversas videolocadoras. É raro encontrar uma produção genuinamente budista, que trate do tema com sensibilidade e sem misturar o budismo com outras histórias paralelas. Este filme consegue juntar as duas coisas.
Gostaria de compartilhas com vocês sobre um trecho do filme onde onde o protagonista, o rapaz com potencial búdico, compara sua busca espiritual com as preocupações fúteis de seu irmão. ele diz mais ou menos assim: o macaco quando vê o peixe dentro da água, em sua ignorância, pensa 'que coitado, ele deve estar se afogando' - e então tira o peixe de dentor da água, achando que está fazendo uma grande ajuda. o peixe acaba ficando sem ar e morre fora da água. Assim é seu personagem: meditação constante, jejum que durava semanas, leituras incansáveis das escrituras budistas, desligamento do mundo; tudo isso debilitava seu corpo e deixava as pessoas à sua volta pensando que ele estava perdendo a sua sanidade mental. Muitos queriam 'ajudar'.
eram macacos à margem do rio tentando resgatar o peixe 'afogado'. Pessoas assim são facilmente encontrados em nosso dia-a-dia, não é mesmo? Os que não entendem, os céticos, os que zombam, os que querem a vida do aqui e agora, preocupados com dinheiro, status social, poder, os que dopam seus corpos com bebidas alcoólicas, com cigarros, drogas.
Até mesmo os fanáticos religiosos cristãos fazem este papel. Eles condenam ao 'fogo do inferno' toda filosofia que seja um pouco mais racional, livre de dogmas, que busque uma verdade diferente das suas escrituras.

um bom filme, recomendo, acrescentou muito para mim.

namastê!